quarta-feira, 8 de maio de 2024

Depois do fim... Começo!

Você tem a sorte de poder dizer que ficou com o amor da sua vida até o fim. O recorte desses anos vividos perdurarão por toda a sua existência, pelo menos por enquanto. Poderia ser que daqui 5 anos vocês se separassem e cada um fosse seguir sua jornada. Nunca saberemos. E esse não saber mantém a sua fantasia de que seria pra sempre. Pode ser que fosse. Mas infelizmente o destino preparou outro desfecho. 

Por hora (dias, semanas e, talvez, anos) vai ser difícil para qualquer pessoa competir com esse romance de cinema. Cuidado apenas, meu bem, pra não deixar que as recordações de um amor se transformem em um fantasma que assombra qualquer possibilidade de ser feliz de novo. Cuida pra não tentar encaixar alguém no padrão inalcançável de quem sempre vai ocupar um lugar idealizado no seu coração. 

No mais, desejo que sua alma cicatrize e que consiga conviver com essa falta que permanecerá presente. Sinta com toda a intensidade que pode, sem nunca esquecer que para uma falta existir é preciso haver espaços cheios de outras coisas. Observe o que há ao redor. Permita-se surpreender!

quarta-feira, 3 de abril de 2024

O Caos e A Intuição


Eu tenho uma pré-disposição para gostar de uma encrenca. O proibido mais gostoso não é só um clichê. Todas as contingências que impossibilitam qualquer aproximação dos nossos corpos parecem temperar ainda mais o desejo reprimido, que começa a querer sair de outras formas. Não é só mera observação do meu signo analítico e, igualmente, intuitivo. A tensão energética que surge quando estamos a poucos metros de distância é real. É um magnetismo vibracional, sexual, espiritual, sei lá. Sei que vai tomando conta de nós e deixando nossos olhares e sorrisos extremamente vulneráveis. 

Tudo isso é mais do que uma sensação corriqueira. A transmissão dos pensamentos estão se transformando na procura de qualquer justificativa boba para ter aquele papinho rápido, como quem não quer nada, querendo tudo. Você também se sente confuso, eu sei. A confusão está se espalhando, se misturando com o medo e a razão. Aquela razão que diz que tudo isso é uma loucura, mas que um pouco de loucura não faz mal a ninguém. Como diria Leminski, "repare bem no que não digo". Nossas entrelinhas já estão bem explícitas. Tão explícitas como tudo que gostaríamos de fazer um com o outro, mas não ousamos deixar o outro saber. 

Nada disso é segredo pra você, né? Continuamos fingindo assim ou vamos nos entregar ao caos? 


quinta-feira, 7 de março de 2024

22:22


Sei que minhas escolhas estão de acordo com uma vida tranquila, dias serenos e desentendimentos na medida típica de uma relação humana. É bom ter a paz na consciência de decisões conscientes, mesmo quando o coração se mantém um pouco resistente. Chega a ser incrível sentir a razão tomando seu lugar no mundo e freando as intempéries emocionais, sempre tão intensas, passageiras e, geralmente, inconsequentes. 

Mas uma coisa a razão não consegue alcançar com tanto êxito: aquele frio que começa na barriga, vai subindo, acelerando o coração e sai, uma parte em forma de sorrisos bobos e fáceis e outra em brilhos no olhar. Isso está fora da base de cálculos da racionalidade. Totalmente fora do controle da previsibilidade. 

Esses sorrisos são tão absolutamente indomáveis. Saem espontaneamente como o respirar, que se torna um suspiro sonhador sempre que ele aparece. Tudo se torna um delicioso e desejável caos interno, gerando até aqueles comportamentos desajeitados de quem sente vergonha quando está perto de quem se gosta. Porém, como bem questionou Freud, será que queremos o que desejamos? 

É bom sentir a adrenalina nas veias depois de tanto tempo de amenidades. A vivacidade do pulsar do coração no corpo e na alma. O sangue irrigando e esquentando cantos adormecidos. Sei que nossos olhos se encontram e, no fundo, ainda que ainda não saibamos ao certo, ambos queríamos que fosse mais que um encontro no olhar. Quem sabem em outro tempo possamos ter outros encontros com direito a dança com as mãos e descobertas de bocas e abraços. Quem sabe em outro tempo. Talvez em outra vida. Quem sabe, talvez... 

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Lição #4: Sujeito Oculto


(Trilha do sonho: Pedro Pascual e Tiê - Cor Favorita)

Te amo de longe. 

E de longe continuarei. 

Não quero correr o risco de machucar ainda mais o seu coração que já tem carregado a bagagem da maior, imprevisível e inevitável. 

É um grande egoísmo da minha parte pensar em expor um pouco que seja do meu amor mal intencionado quando você acabou de perder o amor. Você sabe como ele é, mas imagino não o  querer por perto tão cedo. Hoje, talvez, nunca. 

Dores profundas trazem desesperança com certa frequência. Não que esse seja o único motivo que me mantém distante. 

Há um mundo de impossibilidades entre nós. Nós cada vez mais difíceis de desatar. Eu não posso me aproximar, sob pena de partir corações. São tantas vidas entre nossas vidas. 

Por isso é melhor que eu siga assim, te amando de longe, com as palavras que me são permitidas, com aperto de mão no lugar do abraço apertado e do carinho no rosto. 

Consigo dar todos os limites aos verbos e mãos, sei, porém, que é provável que me deixe revelar pelo olhar abobalhado e sorriso frouxo. Considere como só algumas características peculiares e siga fingindo que nada aconteceu. 

Quem sabe um dia seremos mais. 

Por hora ficamos combinados, eu de te amar de longe e você de não saber. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

É só coisa da minha cabeça...

(Reggaeton Triste - Manu Gavassi)

Você estava ali, como quem não quer nada. E talvez nada quisesse mesmo. A vida era só aquilo, aquele momento. Uma conversa leve e boa ritmada pelo seu tom de voz estável e ameno. Uma distância incoveniente entre nossos corpos que era diminuída por milésimos de segundos de flertes inocentes pelo olhar. Às vezes sinto que você também sente um lampejo de frio na barriga que dura tão pouco que quase não dá pra perceber. Mas que quando é sentido se transforma numa fagulha de calor. 

Conversas com você são sempre tão enriquecedoras. Nossas ideias se encaixam de um jeito fluido e natural. Porém, confesso que gostaria de estar vivenciando sua presença de formas diferentes. Experimentar uma comunicação em outro nível. Um diálogo de corpos que se encaixam de um jeito fluido e natural. 

Desejos velados por flertes inocentes demandam lugares secretos compartilhados a dois. Certos lugares são um convite para findar distâncias inconvenientes. Seria deliciosamente agradável conhecer alguns deles com você. Poderíamos divagar sobre o tempo e as mudanças da sensação térmica que, curiosamente, aumenta a medida que as roupas caem no chão. 

Eu tenho o hobbie de procurar maneiras de executar as situações que já estão criadas na minha cabeça. Gosto de pensar que a qualquer passo a gente vai se esbarrar e depois de um café, eu vá direto pra sua boca. Há uma chance não ser bom? De acordo com a realidade, sim. Vamos nos permitir descobrir?! 


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Onde moram as certezas?


(What Was I Made For? - Billie Eilish)

Parece que todos os indícios apontam para apenas um fato e eu... Eu me esforço para fazer o caminho inverso. Aquela velha tentativa de nadar contra a maré, com o agravante de que não são apenas ondas seguindo o fluxo cotidiano natural, é um tsunami que pode mudar todo o curso da minha vida. 

Às vezes é tão difícil lidar com o fardo da liberdade das minhas escolhas. Cada uma delas envolve perdas que eu não quero ter. E isso soa tão egoísta e infantil que chego a me assustar comigo mesma. Não sei o porquê de tanta dedicação em suprimir minha intuição, meu coração que, volta e meia, se vê procurando pequenas recompensas para preencher o eco dentro dele. 

Eu queria estar mais feliz. Eu merecia estar mais feliz. Peço a Deus com tanta veemência essa pontada de alegria flamejante, com a urgência de quem sente que está prestes a partir e nunca mais voltar. Sinto medo de partir de mim mesma, de me perder só pra que outra pessoa supostamente se encontre. 

Por outro lado é estranho pensar em largar tudo e deixar o outro ir. Estranho, porém o justo, talvez. Será que sentir dúvida já é a resposta? Será que o próximo passo é não dar o próximo passo? Onde moram as certezas?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Do fundo da gaveta


(Coisas velhas merecem trilhas aconchegantes - Marcelo Jeneci - Ritos)

Você tinha cheiro de incenso e coisas velhas. Irritava o meu nariz alérgico, às vezes, mas era aconchegante como cobertor antigo de estampa xadrez. E era assim, um incômodo confortável, de fácil resolução. Sempre foi tudo tão fácil com você. A vida se fundia entre surpresas e nostalgias, tal qual tardes em que se tira coisas de um baú antigo, que são atravessadas por risos e saudosismo. 

O que você deixou, já não é mais. Diluí ao longo dos dias, de acordo com a previsão do tempo. Esperei os ventos bons para levar cada fragmento seu para os lugares que nos desejei. Deve ter você em Bali, Marajó, Patagônia e até no Monte Roraima. Aqui só ficou o seu cheiro de incenso e coisas velhas. Velhas como as páginas amareladas em comum no livro das nossas vidas. Releio ocasionalmente quando os dias estão filtrados em sépia. A nossa prosa parecia um romance completo, mas era só o ensaio de uma crônica. Apesar disso podemos nos considerar escritores esforçados. Existem passagens bonitas, embora efêmeras. Ainda assim, você pode visitar vez em quando. Faz bem passear entre reminiscências doces, velhas conhecidas. Já não lembro mais da sensação térmica da sua pele, mas o cheiro...

Porque cheiro de incensos baratos são tão fortes e chegam tão longe? Desculpa se soou ofensivo comparar seu cheiro a incensos baratos, mas incensos baratos não são ruins. Na verdade são verdadeiramente únicos. Sentimos e logo sabemos que se trata de um incenso barato. E no fim das contas,  nosso encontro não passou disso - de uma fagulha de incenso que se acendeu, todo mundo notou e se foi - porque foi feito tão somente para isso: acabar. Mas o cheiro... O cheiro impregna. O cheiro gruda nas paredes da memória. Talvez eu também tenha um pouco desse cheiro. Daquela marca que todo ser humano significativo tatua na alma de outro ser humano que se deixa ser marcado. 

Espero que fique bem na minha caixa de coisas velhas. O mundo está deveras diferente, a vida mudou. Entretanto, como uma boa velha saudosista que sou, voltarei para tirar a poeira e farei companhia em um possível texto sobre passados. Só não acostume porque não me demoro. Preciso abrir caixas para os meus novos presentes (e ir correndo tomar um remédio para essa coceirinha no nariz!).